Cônego Pennafort foi tema de diálogo entre acadêmicos e literatos de Bragança do Pará
- Francisco Weyl
- 25 de ago. de 2021
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Atualizado: 4 de out. de 2021
Academia de Letras prossegue com o projeto esse é meu patrono, em Bragança do Pará
A seccional municipal da Academia de Letras do Brasil – ALB-Bragança do Pará deu prosseguimento ao projeto “Esse é meu patrono”, oportunidade em que o acadêmico Francisco Weyl falou sobre o Cônego Pennafort.
Segue texto apresentado pelo acadêmico à assembleia geral do Silogeu, realizada nesta terça-feira, 24 de Agosto:
(...)
A cadeira 35 tem como patrono um ilustre cidadão brasileiro nascido em Jardim, Ceará, a 25 de novembro de 1865.
Ele se chamava Raimundo Ulisses de Albuquerque Pennafort, que, aliás, é também patrono da cadeira n° 32 da Academia Cearense de Letras.
Intelectual reputado como um dos mais inteligentes quadros da Igreja Católica brasileira, Pennafort foi romancista, contista, ensaísta, etnólogo, memorialista, e poeta.
Filho Do Capitão Manuel Francisco Cavalcante de Albuquerque e de Dona Generosa Cândida Brasil de Albuquerque Pennafort, Raimundo Ulisses de Albuquerque Pennafort morreu jovem, aos 56 anos, em Belém, 25 de abril de 1921.
A homenagem que lhe presto, enquanto bragantino deve-se ao fato de ter crescido a ouvir o nome deste intelectual e religioso em minha própria casa, através das falas de minha mãe, Dona Josefa Weyl, que vem a ser sobrinha-neta de Pennafort.
De estatura mediano-alta, tez clara, cabelos crescidos em coma de caracóis, porém não bastos, Pennafort usava óculos ou pincenez, presos por torção que pendia até o peito. Era um homem robusto, de fisionomia enérgica, face enrugada e um ar de acentuada severidade, entretanto, de expressão bondosa.
Ao homenagear o Cônego Raimundo Ulisses de Albuquerque Pennafort como patrono da cadeira de N. 35, faço um resgate à história de minha terra natal, onde este ilustre cidadão foi grande educador, sacerdote e jornalista abolicionista convicto.
Intelectual e jornalista, Pennafort escrevia bem e se dedicava aos seus estudos e à causa abolicionista. Vez por outra, apareciam nas folhas de Belém, artigos seus, bem documentados e longos de preferência sobre etnografia indígena.
Cito algumas atividades deste homem.
Foi correspondente da "Academia Cearense de Letras" e "Union des Associations de la Presse Ibero- Americane", membro cooperador salesiano do Instituto D. Bôsco de Turim e Niterói, sócio correspondente da Arcádia Fluminense e da Arcadis Romana, do instituto paraense da Mina Literária, também do Pará, da Iracema Literária do Ceará, da Academia Poliglota da Itália, e da Societé Asiatique dês Langues Orientales Vivantes de Paris.
Pennafort dirigiu o jornal "O Zuavo", e, posteriormente, "O Caeteense" de 1885 a 1889, em Bragança.
Foi também redator de dois outros jornais, "O Século XX" e "O Guajará", em Vigia, cidade paraense, da qual foi vigário.
No município de Maracanã, dirigiu também "A Tuba", órgão que se tornou importante na associação Arcádia Americana, da qual Se tornara Reitor.
Entre os trabalhos intelectuais e a religião, Ulisses Pennafort viveu intensamente, tendo deixado no seu acervo de homem de pensamento, uma longa lista de trabalhos, ensaios e estudos, muitos dos quais publicados:
i. “Ecos D'Alma” (1881);
ii. "Monsenhor Pinto de Campos" (Estudo biográfico-literário publicado no jornal "O Caetense", durante os anos de 1884 a 1885);
iii. “A Igreja Católica e a Abolição” (1884);
iv. “Os Retirantes” (1887 – Poemeto em que tracejou sofrimento extraordinário dos seus coestaduanos, que se vêm periodicamente acossados pelo flagelo das secas que lhes obrigam a deixar o torrão natal para procurar a vida melhoramente, em plagas amazônicas);
v. “Os Esplendores do Culto Mariano” (1890);
vi. “O Novo Morto Imortal ou Memória Monógrafa dos Grandes Méritos e Atos Ilustres do Arcebispo Dom Antônio Macedo Costa - O Apóstolo D'Amazônia” (1892 - Discurso Ontológico);
vii. “Cenontologia ou ensaios de sciencia e religião”. (Publicado pela Editora Pará, Via Typografia Pennafort, com encadernação de Pinto Barbosa, em 1894. Trata-se de uma
viii. Conferência de longas divagações filosóficas, por ocasião da inauguração do Paço Municipal de Marapanim);
ix. “Memorial synoptico sobre a glorificação do Padre Antônio Vieira” (Publicado pela Editora: Maracanan, Pará, via Typologia Pennafort, em 1897. Trata-se de um Conto que imaginou e escreveu sobre um assunto fornecido pelas secas e o martírio de sua população, que sempre nesses períodos demandava às terras exuberantes da Amazônia, como a uma terra da permissão);
x. “Centenário da sua Morte (1898 - Orações Patrióticas);
xi. “Mandú (o eremicola) : romance indo-brazileno”. (Publicado pela Editora: Ceará : L.C. Cholowieçki, em 1901. É um livro de quase 300 páginas de rara observação e estilo forte e claro. Fácil é de imaginar-se como o cônego Pennafort, de tendências intelectuais aprimoradas, cuidasse em vestir de mistério aquelas misteriosas estórias de Iaras, botos, matintas-pereiras, curupiras, uirapurus, tão abundantes e típicas da região da Amazônia);
xii. “Quadro Sinótico dos Nomes IndoBrasileiros” (1899);
xiii. “Filologia Comparada - Estudos Sobre a Palingenésia da Língua Tupi” (1903);
“Brazil pre-historico. Memorial encyclographico a proposito do 4o. centenario do seu descobrimento” (Publicado pela Editora: Fortaleza, Studart, em 1900. Este livro é um memorial enciclográfico, um estudo de cerca de 358 páginas, em que discorre, à luz da ciência de então, sobre a história do Brasil, o povoamento do solo, as línguas tupis ou língua geral falada pelos nossos indígenas).
Eram bem conhecidas suas aptidões para estudos de língua indígenas e orientais, sendo esses ensaios que escreveu e publicou em vários jornais e revistas, muito apreciados e tidos em alta valia.
Pouco se sabe sobre os primeiros anos de existência, no Ceará, nem como se transportou até o Pará, onde fixou residência e viveu até os últimos momentos de sua vida.
Pennafort recebeu, a 2 de maio de 1880, as ordens sacras das mãos do Bispo D. Antônio de Macedo Costa, tendo de seguida paroquiado em diversas freguesias, sempre cumprindo rigorosamente os deveres da religião e pugnando quanto lhe permitiam as forças, pelo progresso material da cada um.
Bragança, 2021
© Francisco Weyl
NOTAS:
1) O presente artigo esclarece a homenagem e as relações de parentesco entre o Cônego Pennafort, Patrono, e Francisco Weyl, Imortal ALB-Braga
2) O presente artigo tem como fonte e se utiliza de excertos de textos publicados em 1969 por José Valdo Ribeiro Ramos, Academia de Letras do Ceará, e Dr. Barão de Stuart, do "Dicionário Bibliográfico Cearense".
PÓS-SCRIPTUS:
Mas, com que orgulho minha mãe falava de seu tio-avô Raimundo Ulisses de Albuquerque Pennafort, de quem exibia alguns opúsculos, que desapareceram com as mudanças de casas e dispersões dos objetos de minha família.
Ainda me recordo do “Echos D’Alma”, obra literária de 1881 - em que Penafort lamenta a seca do Ceará, sua terra natal (Jardim, 25/Abril/1921) -, e que tinha lugar de honra na nossa biblioteca.
Mamãe, que nos deixou de herança a sua sabedoria e simplicidade, adorava este livro, e costumava falava da notável cultura humanística, e intelectual, do estudioso e defensor das causas abolicionistas e indígenas, Cônego Pennafort.
Pela Dona Zinha eu soube que seu tio-avô era romancista, cronista, poeta, sociólogo, filólogo, indianista, orador sacro, e jornalista, sendo considerado, àquela altura, um dos religiosos mais cultos do clero brasileiro.
Entre as diversas obras que o Cônego Raimundo Ulisses de Albuquerque Pennafort escreveu está “A Filosofia Positiva”, publicada originalmente no Jornal “Boas Novas”, com textos contra Augusto Conmte e Littré.
Abaetetuba, Bragança, e Vigia foram alguns dos Municípios por onde o Cônego passou, com seu perfil educador, e renovador, tanto que, ainda Vigário de Cintra (28/5/1897), fez campanha para que o antigo nome indígena “Maracanã" fosse o nome da cidade.
E o Município hoje tem uma Travessa com o seu nome, o estado do Ceará tem um Município com o nome dele, e o seu município de nascimento, Jardim, tem uma escola batizada de Pennafort.
Patrono da cadeira N.° 32 da Academia Cearense de Letras, e patrono da cadeira Número 35, da Academia de Letras do Brasil – Seccional Bragança, a qual eu ocupo, Pennafort nasceu em Jardim, Ceará, a 25 de novembro de 1855, e faleceu em Belém do Pará, a 25 de Abril de 2017.
Obras do Cônego Raimundo Ulisses de Albuquerque Pennafort
Título: A filosofia positiva
Ano de publicação: 1881
Título: A União [CE]
Ano de publicação: 1875
Título: Brasilianismo
Título alternativo: Estatutos literários, antropológicos e etnográficos do Brasil
Título: Breves lições de ciências naturais e filosóficas para o uso e ensino livre, religioso do Instituto Penaforte
Título: Cenontologia
Título alternativo: Ensaios de ciência e religião
Ano de publicação: 1894
Título: Cenontologia
Subtítulo: Dissertação filosófica sobre a Cenontologia ou evolução religiosa, encarada sob o tríplice ponto de vista dinâmico-lógico, moral-ontológico e social
Ano de publicação: 1892
Título: Ecos d'alma
Ano de publicação: 1881
Título: Estatutos do Colégio Cristóforo
Título alternativo: Instituto Penaforte
Título: Gramática e dicionário da língua brasílica
Título: Mandú
Ano de publicação: 1901
Título: Mandú
Título: Monocromo
Ano de publicação: 1900
Título: Monsenhor Joaquim Pinto de Campos
Subtítulo: esboço biográfico-literário
Periódico: O Caetense, Bragança, PA
Ano de publicação: 1884
Título: O Caetense
Ano de publicação: 1885 - 1892
Título: O Cariri
Ano de publicação: 1875
Título: O nome Ceará
Ano de publicação: 1900
Título: O novo morto imortal
Título alternativo: O apóstolo da Amazônia, Dom Antônio de Macedo Costa
Ano de publicação: 1891
Título: O Retirante
Periódico: O Retirante, Fortaleza, CE
Ano de publicação: 1877
TEXTO © Francisco Weyl

Fontes pesquisadas para a escritura deste texto:
BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario Bibliographico Brazileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1883. 7 v.
COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras, 2001. 2 v. ISBN 8526007238
História do Positivismo no Brasil (Por Ivan Lins)
Revista da Academia Cearense de Letras (No tomo IV - 1899)
http://www.brasiliana.com.br
https://www.culturavigilenga.com
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br
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Fonte © Ascom/ALB-Bragança do Pará
Texto: Acadêmico Francisco Weyl
(cadeira N. 45 - Patrono: Raymundo Ulysses Penafort Albuquerque / Jornalista DRT-Pa 2161)
FOTO: Arquivo


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